Pirateiem meus livros
artigo publicado em 29 de maio 2011 no jornal Folha de São Paulo
Em meados do século 20, começaram a circular na antiga União
Soviética vários livros mimeografados questionando o sistema político.
Seus autores jamais ganharam um centavo de direitos autorais.
artigo publicado em 29 de maio 2011 no jornal Folha de São Paulo
Pelo contrário: foram perseguidos, desmoralizados na imprensa oficial,
exilados para os famosos gulags na Sibéria. Mesmo assim, continuaram
escrevendo.
Por quê? Porque precisavam dividir o que sentiam. Dos Evangelhos aos
manifestos políticos, a literatura permitiu que ideias pudessem viajar
e, eventualmente, transformar o mundo.
Nada contra ganhar dinheiro com livros: eu vivo disso. Mas o que
ocorre no presente? A indústria se mobiliza para aprovar leis contra a
“pirataria intelectual”. Dependendo do país, o “pirata” -ou seja, aquele
que está propagando arte na rede- poderá terminar na cadeia.
E eu com isso? Como autor, deveria estar defendendo a “propriedade
intelectual”. Mas não estou. Piratas do mundo, uni-vos e pirateiem tudo
que escrevi!
A época jurássica, em que uma ideia tinha dono, desapareceu para
sempre. Primeiro, porque tudo que o mundo faz é reciclar os mesmos
quatro temas: uma história de amor a dois, um triângulo amoroso, a luta
pelo poder e a narração de uma viagem. Segundo, porque quem escreve
deseja ser lido -em um jornal, em um blog, em um panfleto, em um muro.
Quanto mais escutamos uma canção no rádio, mais temos vontade de
comprar o CD. Isso funciona também para a literatura: quanto mais gente
“piratear” um livro, melhor. Se gostou do começo, irá comprá-lo no dia
seguinte -já que não há nada mais cansativo que ler longos textos em
tela de computador......................................................................................................................
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